
É como se fosse qualquer tarde de sexta-feira se eu não estivesse vendo tudo em tons de azul.Na fumaça que sai da minha xícara e toca suavemente a ponta do meu nariz gelado,enxergo você sentado.Parado como uma fotografia que eu tinha acabado de tirar,com meus olhos.Aquela brisa suave e ao mesmo tempo gelada me fazia chegar mais perto do meu café,me fazia segura-lo para que esquentasse as pontas dos meus dedos e por fim tomar um gole,sem se quer tirar os olhos de você.O que envolvia seus lábios naquele momento era um cigarro,eu conseguia sentir o quão você precisava tragar,e o invejava por estar tão mais perto dos seus lábios do que eu...Maldito vicio.Eu,a cada tragada que você dava,conseguia sentir o papel queimar e a música que era baixa e vinha não sei de onde me fazia pensar "em qual mundo será que ele está?!" Pretendi,eu confesso passar pela fumaça que você soltava da boca,e te beijar lentamente,do jeito que eu gosto,mas na falta de coragem que tive tomei mais um gole do meu café e me peguei dando um sorriso fugido pelo canto da boca.O amarelo-mostarda que era a cor predominante da sua blusa,era o que mais destacava na minha retina,então eu me curvei,debrucei sobre a mesa,cobri uma mão com a minha blusa de frio e apoiei meu rosto na mão.Eu respirei fundo e ajustei meus óculos para entender que não era uma miragem.E confesso que quando expirei todo o ar,agradeci a Deus que você,naquele lugar era mais do que real.Quando você depositou suavemente suas cinzas naquele cinzeiro percebi que me olhou,em um olhar simples e direto,e antes que o cigarro chegasse a sua boca,um meio sorriso desabroxou para mim e o seu olhar deparou com o meu,novamente.
O tempo,definitivamente nesse segundo tinha parado e eu aos poucos me recompus,ajeitei a minha cadeira pra mais perto da mesa e coloquei uma dose de açucar no meu café,olhei dentro do preto que tinha ali na minha xícara,me envolvi tanto com as voltas que eu dava com a colher que esqueci do mundo que girava la fora,e inclusive de você.
"Posso me sentar?" Foi o que quebrou o meu raciocinio,um timbre de voz grosso que me fez olhar rapidamente quem era.Quando meus olhos encontraram-te,não conseguia pensar em nada a não ser "Sinta-se a vontade". Você trazia mais uma xicara de café para a minha mesa,e a fumaça que saia dela enroscava-se com a minha,antes das duas desaparecerem no ar frio que nos envolvia.De complemento,lá fora gotejava pingos doces e suaves que pareciam cair lentos com toda a graça que os quarda chuvas abriam.Eu só não queria que aquelas sombrancelhas que erguiam diante de mim,aquela barba e os dentes brancos que completavam o sorriso que sorria para mim,não desaparecessem e eu não acordasse em um quarto escuro,e o bom foi,que eu não acordei.
"Eu só costumo não desperdiçar os meus destinos." e então a sua xícara calou sua voz em um gole feroz que você deu no café,eu só sorri e fechei o ziper da minha blusa até o pescoço,tomei um gole e disse "Você parece triste"
"E estou..." Eu não resisti e perguntei sem pensar o que era e você me respondeu a resposta que eu daria,e a que eu queria escutar. "existe coisa mais triste do que ter que tomar um café sozinho?" Juntos sorrimos,e a minha meia xícara de café não sei como,completava o seu cigarro,que você acabara de acender.
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